O documentário Lute Como Uma Gorda: Poesia Documentada chega a Cuiabá para trazer à tona uma narrativa rara: ele coloca o corpo gordo no centro da arte e politiza o poema como forma de resistência. Dirigido por Ju Queiroz, o filme parte da pesquisa da escritora e ativista Malu Jimenez, que estudou por meio de uma tese de doutorado o universo dos corpos gordos femininos no Brasil.
A arte que denuncia
O documentário integra performance, artes visuais, poesia e som para construir uma linguagem que foge ao padrão habitual de retratar corpos “fora do padrão”. Ele aborda a gordofobia enquanto fenômeno invisível profundamente enraizado em instituições e nos hábitos cotidianos, conforme a própria pesquisa que lhe deu base. A partir de imagens em espaços públicos de Mato Grosso, o filme evidencia que existir num corpo considerado “desajustado” é também persistir e resistir.
Espaços de lugar e poder
Malu Jimenez destaca que os corpos gordos femininos historicamente enfrentam rejeição, invisibilidade e falta de acessibilidade: “quando um corpo não está dentro do padrão magro, é estigmatizado, considerado doente, anormal” — essa constatação está na base da tese. O documentário amplia essa discussão: ele mostra que a ocupação desses espaços, visuais ou urbanos, se transforma em uma ação política silenciosa. A cidade, o cenário, o corpo e o poema se misturam para interrogar quem tem direito de existir.
Poesia como território de criação
Mais do que denunciar, o filme propõe que o corpo gordo se torne terreno de criação, mobilização estética e poesia ativista. Ele demonstra que transformar dor e invisibilidade em arte não é mera sublimação, mas expressão de legitimidade e voz. A proposta “não caber” que aparece no cartaz oficial se confirma em cena: existir e ocupar o mundo sendo diferentE é ato de afirmação.
A programação, gratuita e com acessibilidade em libras, abre espaço para uma reflexão que vai além do entretenimento: questiona padrões, convida à escuta e propõe novas formas de ver e estar no mundo. Para quem cobre cultura ou integra debates sobre identidade e corpo, este filme oferece matéria prima crítica e sensível.
Perguntas frequentes:
A motivação parte de uma tese acadêmica que analisou corpos gordos femininos e transformou essa pesquisa em documentário para visibilizar resistência.
O filme trata o corpo gordo como território de criação e resistência, e não o reduz a um objeto de estudo ou exclusão.
R: Porque traz para o âmbito local de Mato Grosso um debate nacional sobre gordofobia, arte e política dos corpos, fortalecendo visibilidade regional.












