Era uma vez uma geração de reis e rainhas, que governavam seus lares com mãos firmes e palavras que, embora duras, pretendiam moldar guerreiros para um mundo igualmente rígido. Eram os Baby Boomers, forjados na disciplina e no medo, especialistas na arte de transformar lágrimas em silêncio com frases como: “Engole o choro, senão te dou motivo para chorar!”. Nesses reinos, a palavra dos pais era lei, inquestionável e absoluta. Não havia negociações, apenas decretos. E assim cresceram seus filhos, a Geração X, com joelhos ralados e cabeças baixas, jurando a si mesmos que jamais empunhariam o mesmo cetro autoritário.
Mas como em toda boa trama, a vingança tem um preço — e eles o pagaram caro. Destronaram a tirania, mas, sem perceber, abriram as portas para um novo tipo de caos: a ausência de limites. E assim, pais passaram a ser irmãos mais velhos, cúmplices travestidos de autoridade, confundindo amor com concessão. Os filhos, por sua vez, tornaram-se príncipes sem coroa, mas com todos os privilégios, cercados por um séquito de telas, mimos e a ausência de um não firme. Afinal, impor limites parecia um eco sombrio demais daqueles tempos de gritos e cintos.
Na tentativa de corrigir os excessos do passado, cometeram um erro de cálculo: esqueceram que a liberdade sem fronteiras é só mais um tipo de prisão. Os antigos ditadores foram substituídos por figuras paternas e maternas eternamente adolescentes, temerosas de desagradar ou parecerem cruéis. Em vez de ensinar que frustração também educa, preferiram a zona de conforto do “faça o que te faz feliz”. E assim, com sorrisos cúmplices, os limites foram desaparecendo, como castelos de areia levados pela maré.
Enquanto isso, a Geração Y, herdeira direta desse dilema, cresceu sem saber ao certo se devia ser guerreira ou princesa. Entre conselhos contraditórios e exemplos confusos, aprendeu que a vida não é feita apenas de escolhas, mas das consequências que vêm com elas — uma lição que, ironicamente, seus pais tanto temeram ensinar.
E aqui estamos, no século XXI, vendo crianças comandarem tronos improvisados enquanto os pais observam, inseguros, se fizeram a escolha certa. Talvez a grande tragédia dessa história seja a ausência de uma palavra que, embora pesada, mantém o equilíbrio: limite. Porque amar, ao contrário do que dizem os contos modernos, não é apenas acolher, mas, às vezes, impedir que o barco siga à deriva.
Talvez, quando a maré finalmente baixar, possamos perceber que a verdadeira sabedoria da parentalidade está justamente no ponto de equilíbrio entre a mão firme e o abraço apertado. Até lá, seguimos navegando entre os extremos, tentando aprender a ser pais enquanto tentamos desesperadamente não ser como os nossos.