Morreu na madrugada desta segunda-feira aos 100 anos a ativista política e defensora dos direitos das mulheres Clara Charf. Viúva do guerrilheiro Carlos Marighella, ela estava hospitalizada em São Paulo e havia sido intubada. A confirmação da morte por causas naturais foi dada por Vera Vieira, diretora-executiva da associação idealizada por Charf: a Associação Mulheres pela Paz. A despedida vem após uma vida marcada por lutas políticas, exílio e construção de organizações feministas no Brasil.
Da juventude no Nordeste à militância clandestina
Clara nasceu em 1925, em Maceió, e cresceu no Recife. Filha de judeus russos, viu cedo a miséria e a desigualdade ao seu redor. Aos 21 anos, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro e logo se envolveu em atividades de base e apoio parlamentar. Em 1948, começou uma vida conjugal e política com o líder revolucionário Carlos Marighella, que viria a se tornar símbolo da resistência à ditadura militar. Após o golpe de 1964, a militância levou Clara à clandestinidade, à prisão e, posteriormente, ao exílio em Cuba. O retorno ao Brasil se deu com a Lei da Anistia em 1979. Desde então, manteve um papel ativo no movimento de mulheres e nas organizações de direitos humanos.
Construindo legado na luta pelos direitos das mulheres
Após o fim da repressão institucional, Clara fundou em 2003 a Associação Mulheres pela Paz, voltada a promover a participação feminina e a denunciar violência contra mulheres. Ao longo da vida, também atuou no Partido dos Trabalhadores (PT), contribuiu para a reparação de vítimas da ditadura e foi reconhecida com diversos prêmios e homenagens. Sua voz foi uma das mais firmes em debates sobre gênero, memória e justiça de transição no Brasil. Mesmo com o avançar da idade, manteve-se ativa, representando gerações que viveram a repressão e a construção democrática.
Um nome que atravessa gerações e desafios
Como figura pública, Clara Charf não atuava apenas como ex-militante histórica. Sua trajetória serviu de ponte entre a resistência da ditadura e a pauta contemporânea de igualdade de gênero. Muitos a viam como modelo de coerência e tenacidade. Ao morrer, aos 100 anos, deixa o legado de quem não recuou perante perseguições, exílio ou silêncio. Apesar das divergências políticas que envolvem sua história — incluindo debates sobre métodos de luta na época da ditadura — sua relevância está em ter construído, com vida longa, vínculo entre diferentes ciclos de ativismo.
Mais do que a informação sobre seu falecimento, a vida de Clara provoca reflexões sobre memória, política e o papel das mulheres na história brasileira. Sua trajetória nos convida a reavaliar como lutas de ontem ainda encontram resistência e esperança hoje.
Perguntas curiosas:
1. O que motivou Clara Charf a se envolver tão cedo com política?
Resposta: A visão das desigualdades no Nordeste e a inspiração em pessoas que haviam sido perseguidas durante o Estado Novo impulsionaram seu engajamento.
2. Como ela se relacionava com Marighella em termos de militância?
Resposta: Foi companheira de vida e de luta; atuou ao lado dele em assessoria parlamentar, clandestinidade e exílio, mantendo identidade própria na militância.
3. Qual foi a principal marca de sua atuação pós-ditadura?
Resposta: A fundação da Associação Mulheres pela Paz e sua contínua defesa de direitos das mulheres, justiça de transição e memória histórica.










