Na fila do café, entre um cappuccino e um “docinho porque eu mereço”, ouvi a frase-símbolo da década: “Parceiro? Só se for com a minha paz.” Ela falou rindo, mas com a seriedade de quem já fez as contas emocionais do mês.
E é aí que o hedonismo moderno — ou o “hendinismo”, como aparece por aí, quase um apelido íntimo — entra em cena. A lógica é simples: se a vida já vem com boletos, trânsito e ansiedade de brinde, por que não buscar prazer, conforto e zero dor extra? A pessoa aprende a morar bem consigo: escolhe a própria série, dorme atravessada na cama sem negociação diplomática, come o que quer, quando quer. E, de repente, pensa: “Se eu já vivo direitinho do meu jeito, por que complicar com alguém?”
Mas nem tudo é comodidade. Tem também um medo quieto, que não vira meme. Muita gente carrega traumas reais: relações que adoeceram, promessas quebradas, abandono, humilhações miúdas do dia a dia, aquela sensação de que amar virou campo minado. Para essas pessoas, ficar só não é pose; é abrigo. É o coração dizendo: “não aguento mais susto”. E nisso há um componente legítimo de cuidado e recuperação.
A solidão, então, deixa de ser castigo e vira “plano premium”: paz, rotina leve, prazeres possíveis. O hedonismo ajuda a fugir da dor cotidiana das relações — discussões, expectativas tortas, ciúmes, cobranças — e oferece uma vida em que dá para realizar desejos sem ter que ceder o tempo todo. Tentador, convenhamos.
Mas é saudável? Depende do motor.
Se a pessoa escolhe estar só com tranquilidade, construindo vida, amigos, sentido, isso pode ser muito saudável. Autonomia é maturidade.
Agora, se está só apenas para não arriscar, se o prazer virou anestesia permanente contra qualquer vínculo, aí não é escolha: é fuga. E fuga cansa por dentro, mesmo quando parece confortável por fora.
E o “mercado” de pretendentes, ficou com escassez? Talvez não falte gente; falte disposição para relações que não somem. Como a vida solo ficou menos sofrida e mais organizada, ninguém quer entrar num namoro só para “não ficar sozinho”. Quer entrar quando for melhor do que ficar em paz consigo. Ou seja: não é que sumiram pretendentes; subiu o nível da vaga.
No fim, o hedonismo e a vida sem parceiro não são vilões automáticos. Podem ser cura, aprendizado, liberdade. O risco é virarem escudo definitivo. O ganho é não aceitar qualquer companhia só para fugir da própria. E isso, por mais moderno que pareça, é só uma forma honesta de viver.












